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Friday, June 4, 2021

"Tratamento cessa o sofrimento", diz Garbin sobre transtornos alimentares - VivaBem

Em 2016, a jornalista Daiana Garbin deixou seu trabalho na Globo para dedicar-se exclusivamente à criação do canal "Eu Vejo" no Youtube, que publica vídeos sobre transtornos alimentares, com a participação de profissionais da saúde e convidados, além de outros projetos, como a criação de seu primeiro livro, "Fazendo as pazes com o corpo".

A jogada foi corajosa, não só por abrir mão do contrato com a emissora, mas por que falar sobre um tema tão complexo e delicado é um desafio e tanto. "É uma doença que carrega vergonha e muita culpa. Eu me arrependi no começo. Na minha ingenuidade não estava esperando os comentários maldosos e fui bastante machucada", lembra.

Mas depois de cinco anos, é possível dizer que Daiana teve sucesso. Não por curar pessoas através de seu conteúdo — isso só é possível com ajuda de profissionais: psiquiatras, psicólogos e nutricionistas— mas justamente porqque, embora a jornada para a remissão seja dura, existem tratamentos que possibilitam cessar a dor sentida por quem sofre dos transtornos alimentares.

Hoje, Daiana é uma das vozes, junto a especialistas e influenciadores, da campanha da ASTRAL (Associação Brasileira de Transtornos Alimentares) que com o apoio do Instagram, discute mitos e verdades comumente associados aos transtornos alimentares em uma série de vídeos, cards informativos e debates ao vivo durante todo o mês de junho.

A campanha traz um foco específico em minorias, como a população LGBTQIA+, negra, gorda e homens (minoria nos transtornos alimentares).

"Cada população tem suas diferenças e dificuldades de acesso a informação e de acesso a tratamento. Para pessoas gordas, por exemplo, às vezes os sintomas não são investigados por causa do peso. A ideia da campanha é trazer as particularidades que cada grupo tem, levando o conteúdo às pessoas que nunca se veem nessas informações" diz o nutricionista Muriel H. Depin, especialista em transtornos alimentares, membro do Conselho Técnico da ASTRAL e criador do Instagram @obarrigapositiva.

O filtro mais importante das redes sociais

O tal do "unfollow terapêutico" é a bola da vez nas pautas de saúde mental — e a tendência só deve crescer. "É essa história de começar a pensar o que faz sentido ver na timeline, se estamos seguindo pessoas que nos fazem sentir mal sobre nós mesmos", diz o nutricionista.

Ter um filtro interno é necessário para se blindar e não deixar que uma sensação de inadequação tome conta da mente. "É importante ressaltar que as redes não fazem ninguém ter transtornos alimentares, mas podem contribuir para um distúrbio se a pessoa ficar constantemente se comparando", diz Daiana.

Enquanto acabamos consumindo, às vezes sem perceber, conteúdo que nos faz mal, é possível fazer o caminho inverso de uma forma consciente. "Precisamos falar mais sobre bem-estar e menos sobre padrões rígidos de beleza. A ideia é seguir perfis com temas e assuntos quem sejam boas influências, conteúdos que fazem pensar de fora diferente", afirma a jornalista.

O caminho da cura tem ponto final?

"Hoje eu me sinto curada, mas o termo usado pelos psiquiatras é 'remissão'. Eu acredito, sim, num caminho de cura. Mas é importante conversar sobre o que ela significa: não é achar meu corpo perfeito, mas amá-lo e aceitá-lo como ele é. É ter uma boa relação com a comida, me permitir exagerar as vezes e ficar bem, sem me punir ou me culpar. Não se trata de perfeição, mas de aceitação", diz Daiana.

O tratamento, como mencionado acima, é feito por uma equipe multidisciplinar e, na experiência da jornalista, a forma saudável de cessar a dor causada pelos transtornos alimentares e devolver a qualidade de vida a quem sofre com eles.

Conforme explica Muriel H. Depin, ter profissionais especializados é essencial. "Assim o paciente consegue ter suas demandas atendidas e só dessa forma os profissionais conseguem conversar adequadamente sobre o caso entre si", explica.

Se você acredita que tem sintomas de transtornos alimentares, como o medo extremo de engordar, a perda de peso repentina, a culpa após comer e o isolamento de amigos e familiares, busque ajuda. O site do ASTRAL mostra como buscar apoio em todas as regiões do país.

"Para todas as pessoas que estiverem passando por esse sofrimento, quero que saibam que é um sentimento legítimo, que merece um tratamento médico. Saúde mental deve ser tratada do mesmo jeito que a gente cuida de uma perna quebrada. Enquanto tratarmos como frescura e bobagem, pessoas continuarão adoecendo e até perdendo suas vidas", diz Daiana.

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