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Friday, July 30, 2021

Keto flu: restringir carboidratos da dieta gera mesmo sintomas de gripe? - VivaBem

Nem sempre o cansaço, a dor no corpo e a falta de concentração indicam que uma gripe pode estar a caminho. Dependendo de como anda sua alimentação, esses sintomas podem evidenciar a falta do consumo de carboidratos.

Quando isso acontece, o que o corpo sente, de verdade, é falta de energia, provocada pela restrição a esse tipo de nutriente, muito comum em dietas cetogênicas, nas quais a ingestão de carboidratos pode representar apenas 5% das calorias totais do dia —o que daria cerca de 25 g, considerando uma dieta de 2.000 calorias. O resultado é o aparecimento de sintomas bem similares aos da gripe.

"O consumo de carboidratos é fundamental para obter energia. Quando existe uma restrição muito drástica e brusca, surgem sintomas que se assemelham aos da influenza, por isso o nome 'keto flu' [algo como gripe cetogênica, em tradução livre]", explica Antônio Chacra, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês.

Segundo ele, a falta do macronutriente pode causar cansaço, dor no corpo, falta de concentração e de energia. "Isso acontece na dieta cetogênica, que faz uma restrição intensa de carboidratos e favorece a alimentação à base de proteínas e, eventualmente, gordura", diz.

Essa mudança alimentar, de acordo com Chacra, favorece a queima de gordura estocada, gerando a formação de corpos cetônicos, os principais responsáveis pelo surgimento de sintomas. "Outros sintomas comuns são mau hálito e fadiga, também observados em dietas com jejum intermitente. Eles costumam desaparecer em alguns dias ou semanas, com a adaptação do organismo", afirma.

Isso é perigoso?

A dieta cetogênica não chega a ser uma dieta perigosa, mas exige certa atenção em alguns pontos. De acordo com a nutricionista Lara Natacci, da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição), na dieta cetogênica clássica, a gordura representa 90% do valor energético total. Nesses casos, o consumo de carboidratos é de apenas 5%. "Podem existir variações de dieta, onde o consumo de carboidrato pode chegar a 10%, 20%".

Em alguns casos, o consumo de carboidratos dentro da dieta de restrição pode variar a menos de 50 gramas por dia, acendendo o sinal de alerta para a queda da imunidade. "Quando há uma restrição muito intensa, é possível haver alteração na imunidade, por conta da perda de peso que ela acarreta. É possível dizer que o organismo fica mais fraco, mas é uma fraqueza relativa. Não existe uma comprovação definitiva de que a diminuição ou ausência de carboidratos diminui a resistência imunológica, mesmo porque ninguém consegue restringir a ingestão de carboidratos por um longo período de tempo", analisa Chacra.

Para Natacci, é preciso ficar atento a todo e qualquer sintoma que a falta de carboidratos possa evidenciar. "Ele é o nutriente mais utilizado como fonte energética, inclusive, para o funcionamento cerebral. Mudanças muito drásticas na alimentação colocam nosso organismo em risco, pois, se restringe muitos alimentos, restringe a injeção de nutrientes", aponta.

Além disso, o momento que vivemos hoje deve ser levado em consideração. "Agora não é hora para fazer nenhuma mudança drástica na alimentação ou no consumo de nutrientes, porque estamos em época de pandemia. O ideal seria ter uma alimentação equilibrada, ingerir a quantidade de frutas e legumes que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda de, no mínimo, cinco porções ao dia, consumir cereais integrais, que são ricos em fibras, e consumir fontes de proteína. Isso vai garantir a nossa imunidade", diz Marchiori.

Por que dieta costuma não durar muito?

Indicada, principalmente, para pessoas com epilepsia, a keto tem sido procurada também por quem deseja perder peso de forma rápida. O problema é que, por cortar a principal fonte de energia do nosso organismo, é uma dieta muito difícil de ser seguida. "Realmente causa uma perda de peso, mas é um tipo de padrão alimentar que não é fácil de ser mantido, pois você restringe alimentos que, normalmente, estão presentes na alimentação. E quando você volta a consumir, volta a engordar. O efeito sanfona é uma das consequências desse tipo de dieta", explica a nutricionista Vanderli Marchiori, também da SBAN.

Chacra diz que a dieta cetogênica é indicada quando o paciente tem um grande excesso de peso, mas hoje há medicamentos seguros e eficazes que podem auxiliar no emagrecimento, o que progressivamente foi diminuindo a relevância das dietas altamente restritivas na gestão do sobrepeso e obesidade. "Além disso, a dieta cetogênica é contraindicada para crianças, idosos e pacientes com histórico de doença cardiovascular", diz ele.

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