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Sunday, December 26, 2021

Ele descobriu arritmia cardíaca ao ter 132 mini infartos enquanto dormia - VivaBem

Diagnosticado com arritmia cardíaca aos 21 anos, Lucas da Silva, hoje com 22, ficou surpreso ao descobrir durante um exame que sofreu 132 mini ataques cardíacos, ou infartos, enquanto dormia. Morando em Osasco (SP), o auxiliar de escritório fez uma ablação e recuperou sua qualidade de vida.

"Em 2018, os primeiros sintomas apareceram de forma sutil. Tinha tontura quando fazia alguma ação rápida, como me abaixar, sentar e levantar da cadeira, por exemplo. O ritmo do coração também variava, às vezes estava conversando com alguém e sentia o batimento cardíaco diminuir por cinco segundos e depois aumentava mais acelerado.

Como essas sensações eram muito rápidas e aconteciam esporadicamente, tipo uma vez por mês, achei que era normal. O problema é que foram aparecendo outros sinais com o tempo, como dores no peito e o corpo pesado. Na época pedi demissão da transportadora em que trabalhava como ajudante de carga e descarga e que me exigia muito esforço físico

Um ano depois, comecei a ficar cansado e ofegante com muita facilidade, as tonturas e oscilações nos batimentos cardíacos passaram a ocorrer com um pouco mais de frequência e em diversas situações, assistindo TV, mexendo no computador, conversando.

Durante a conversa, estava falando, aí do nada o batimento diminuía, eu paralisava por alguns segundos e depois vinha uma palpitação. As pessoas não percebiam, não doía, mas era uma sensação diferente.

Lucas da Silva descobriu arritmia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Só procurei ajuda médica em 2020, quando tive uma piora, os sintomas passaram a ser diários e comecei a ter dificuldade para dormir. Na hora de deitar, o coração acelerava e tinha uma sensação de refluxo. Achei que fosse algum problema no estômago, fui ao clínico geral, fiz uma endoscopia, mas não deu em nada.

Pedi ao médico para fazer um check-up, ele me perguntou se queria fazer exames do coração também. Eu disse que sim, pois notei que esses sintomas já estavam impactando minhas atividades do dia a dia e impactando minha qualidade de vida. Ele comentou que não achava necessário porque eu era jovem, tinha 21 anos, mas insisti que queria fazer, pois se houvesse algum problema saberíamos no início.

Todos os exames deram ok, com exceção do ecocardiograma que apontou algumas alterações. Por conta disso, o médico achou melhor investigar e me indicou o holter, e fiquei com o aparelho por 24 horas. Para nossa surpresa, ao ver o resultado, descobrimos que tive 132 miniataques enquanto dormia. Fui diagnosticado com arritmia cardíaca em setembro de 2020.

O clínico geral pediu para eu suspender todas as minhas atividades, ficar de repouso e me encaminhou para um cardiologista para descobrir qual tipo de arritmia eu tinha e iniciar o tratamento.

Eu e meus pais ficamos bastante assustados, era o primeiro caso na família. Fiquei confuso, me perguntando se havia feito ou criado algum hábito para desenvolver isso.

Passei a ter dificuldades para dormir, morria de medo de ter um ataque cardíaco dormindo. Deitava e ficava ansioso pensando mil e uma coisas. Às vezes demorava duas horas até pegar no sono. Foi quando recorri à meditação para relaxar minha mente e corpo. Meditava dez minutos antes de ir para cama, caía no sono e dormia bem a noite toda.

Um mês depois consegui a consulta com o cardiologista, ele me pediu um eletrocardiograma, uma ressonância e pediu para eu repetir o holter. Ele confirmou o diagnóstico e, após os resultados, disse que eu tinha taquicardia ventricular.

Comecei o tratamento com medicação diária, tomava um comprimido de manhã e outro à noite. De forma geral, a arritmia melhorou, ocorria com menos frequência, mas ainda me sentia desconfortável. Não gostava da ideia de ter que ficar tomando remédio. Além disso, me incomodava o fato de não poder fazer esforço físico pesado, só coisas mais leves.

Lucas da Silva descobriu arritmia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Relatei meu descontentamento ao cardiologista, ele me apresentou uma outra opção de tratamento, a ablação. De acordo com ele, a chance de cura da arritmia era muito maior e eu não teria limitações. Poderia fazer academia, corrida e qualquer atividade que quisesse sem receios.

Em junho de 2021, fiz a ablação e fiquei dois dias internado. O procedimento em si foi simples, mas fiquei um pouco nervoso. Senti uma dor na virilha, mas foi suportável.

Teve uma hora que os médicos tiveram que acelerar meus batimentos cardíacos, a sensação foi como correr uma maratona deitado. Foi estranho, mas passou e deu tudo certo.

Uma semana após receber alta, senti uma leve tontura e depois não senti mais nada, todos os sintomas desapareceram.

Continuo fazendo exames e acompanhamento com o cardiologista, mas não tomo mais nenhuma medicação, o que é uma grande vantagem. Ainda não peguei firme no exercício físico, mas teve um dia que fiz uma caminhada de uma hora e algumas flexões e me senti super bem. Estou feliz de ter voltado a ter qualidade de vida."

Saiba mais sobre arritmia cardíaca

A arritmia cardíaca é uma perturbação do ritmo cardíaco. O ritmo cardíaco normal chama-se ritmo sinusal. Ele é gerado por um gerador de impulsos do coração, um sistema elétrico próprio, e qualquer perturbação desse batimento, para mais ou para menos, seja taquicardia ou bradicardia, é considerada uma arritmia cardíaca.

Ela pode ser assintomática em uma parcela dos pacientes, principalmente quando é branda. Quando há sintomas, os principais são palpitação, batimentos irregulares, cansaço, falta de ar, tontura e desmaio.

O diagnóstico é feito através de um eletrocardiograma, que faz o registro elétrico do coração. É possível gravar um eletro no consultório, na emergência, no ambulatório, com um monitor holter e até em um relógio, como o Apple Watch ou o Samsung Watch.

Lucas da Silva descobriu arritmia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Lucas da Silva no dia em que fez a ablação

Imagem: Arquivo pessoal

As taquicardias ventriculares (arritmias dos ventrículos) podem levar o indivíduo a ter o risco de uma morte súbita cardíaca, como vemos casos de atletas ou pessoas que simplesmente colapsam subitamente. Popularmente são chamados de infartos fulminantes, mas a maioria deles não é infarto e, sim, uma arritmia nos ventrículos que provoca no indivíduo uma parada cardíaca, uma morte instantânea.

As arritmias podem ser tratadas com medicamentos (chamados antiarrítmicos). Para casos de bradicardia, o marcapasso corrige a lentidão excessiva do coração. No entanto, o principal tratamento é por meio de um procedimento chamado ablação por cateter, trata-se de um cateterismo elétrico do coração. Um cateter é inserido através de uma veia da virilha e vai até o coração, onde se localiza a fonte da arritmia e se cauteriza o coração naquele local.

Atualmente, a ablação é o tratamento mais eficiente para acabar com a arritmia cardíaca. Existem apenas três medicamentos antiarrítmicos disponíveis no mercado e que podem ter efeitos colaterais substanciais. Eles podem e são usados frequentemente, mas ao comparar a ablação com o medicamento, a ablação é muito mais eficiente.

Fonte: Eduardo B. Saad, coordenador do Serviço de Arritmias e Estimulação Cardíaca do Hospital Pró-Cardíaco e Samaritano Botafogo (RJ), especialista em arritmias pela Cleveland Clinic Foundation (USA) e doutor em cardiologia pela UFRSG (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

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