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Saturday, January 1, 2022

O que acontece no corpo quando se para de beber álcool - globoesporte.com

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostra que 55% da população brasileira têm o hábito de consumir bebidas alcoólicas. Nos últimos anos, atravessados pela pandemia de Covid-19, 17,2% desse montante declararam aumento do consumo associado a quadros de ansiedade graves por conta do isolamento social. E agora, a luta de muitos é para largar ou ao menos reduzir o álcool, uma meta de Ano Novo para muita gente. E você sabe o que acontece com o nosso corpo quando paramos de consumir álcool?

Álcool em excesso pode afetar a saúde física e mental — Foto: Reprodução/Internet

Álcool em excesso pode afetar a saúde física e mental — Foto: Reprodução/Internet

Primeiro, vamos entender o que o consumo constante de álcool pode causar.

A curto prazo:

  1. Ganho de peso;
  2. Alterações de humor: irritabilidade, impaciência, depressão;
  3. Perda de memória;
  4. Sonolência;
  5. Resistência insulínica e diabetes;
  6. Hipertensão arterial;
  7. Obesidade;
  8. Infarto agudo no miocárdio e AVC- acidente vascular cerebral.

A longo prazo, o álcool prejudica todos os órgãos, em especial o fígado (o fígado sofre uma sobrecarga para metabolizá-lo), e causa:

  1. Gastrite;
  2. Hepatite alcoólica;
  3. Pancreatite;
  4. Fígado gorduroso;
  5. Cirrose;
  6. Ansiedade;
  7. Depressão;
  8. Envelhecimento celular precoce;
  9. Câncer - especialmente de mama, boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, fígado e intestino.
Para quem pratica atividade física:

O médico endocrinologista Guilherme Renke explica que o álcool reduz a capacidade de recuperação muscular. Além disso, sabe-se que associar exercícios a álcool pode aumentar a possibilidade de:

  • Arritmias;
  • Hipoglicemia;
  • Desidratação;
  • Fadiga;
  • Queda na concentração;
  • Perda de massa muscular;
  • Queda de rendimento;
  • Má recuperação muscular.

– As primeiras horas após o exercício são cruciais para a recuperação muscular. Portanto, o que você consome, especialmente após o treino, faz muita diferença. Um estudo mostrou que a ingestão de álcool prejudica as taxas de síntese de glicogênio muscular após o exercício. Esse resultado aparece principalmente devido aos efeitos indiretos do consumo de álcool: como os atletas estavam bebendo, eles não ingeriam carboidratos, conforme recomendado, para uma recuperação ideal – acrescenta Renke.

O que acontece quando se para de beber:

Você sabia que as bebidas alcoólicas são muito calóricas? — Foto: Divulgação

Você sabia que as bebidas alcoólicas são muito calóricas? — Foto: Divulgação

Em uma semana:
  • Melhora do sono - o metabolismo do álcool atrapalha a produção dos hormônios como a melatonina, impedindo que o ciclo do sono seja completo para que possa reparar as células.
  • Mais energia - o álcool causa reações inflamatórias nas células, fazendo com que o corpo gaste muita energia para metabolizar o álcool, por isso o nível de energia é tão afetado diretamente.
  • Menor retenção líquida pelo melhor equilíbrio do ADH (hormônio anti diurético), responsável pelo controle da reabsorção de água pelo organismo.
Em um mês
  • Os índices glicêmicos diminuem em média 15%, ou seja, ocorre uma diminuição da quantidade de açúcar no sangue responsável pelo desenvolvimento do diabetes tipo 2.
  • Potencializa o processo de emagrecimento, por diminuir as respostas inflamatórias e otimizar a queima de gordura.
Em 6 meses
  • Melhora a pele, pois a desidratação celular causada pelo consumo de álcool acelera o processo de envelhecimento.
  • Redução dos níveis de colesterol, contribuindo para a saúde do coração e a diminuição do risco de infartos e ACV.
  • Menos chance de arritmias cardíacas;
  • Redução da pressão arterial, ajudando no tratamento da hipertensão, outro fator de risco para infarto e AVC.
  • Redução da esteatose hepática, que é a gordura do fígado, entre 15% a 20%. O excesso de gordura no fígado pode levar a um quadro mais grave de disfunção do órgão, causando uma cirrose hepática irreversível.
    A longo prazo, explicou a especialista, além de auxiliar no processo de emagrecimento, o álcool é uma substância tóxica ao organismo que acelera o processo de catabolização (mecanismos de quebra de proteínas que afetam diretamente o corpo a nível metabólico). Para que isso ocorra, as vias metabólicas são todas alteradas, e entre as consequências, ocorre o favorecimento de acúmulo de gordura, principalmente na região abdominal, devido a ativação da secreção do cortisol, que estimula as células a guardarem essas gorduras!
    – Nosso fígado metaboliza o álcool da mesma forma que o açúcar, já que ambos servem como veículo para converter carboidratos alimentares em gordura, promovendo a resistência à insulina, fígado gorduroso e dislipidemia (níveis anormais de gordura no sangue), por isso eliminarmos o álcool da dieta implica em tantos benefícios – acrescentou Genaro.
  • Maior equilíbrio emocional, com menos alterações do humor e condutas antissociais, já que o álcool interfere negativamente no nível de estresse através da regulação do cortisol. Com isso, combate-se fatores de risco para ansiedade e depressão.
  • Redução da resistência insulínica, ajudando a prevenir a diabetes;
  • Diminuição do risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, especialmente os de boca, esôfago, intestino e reto.

Por que o álcool faz mal?

Ressaca é só a ponta do iceberg: estresse, ansiedade, depressão estão entre os malefícios causados pelo consumo excessivo de álcool — Foto: istock

Ressaca é só a ponta do iceberg: estresse, ansiedade, depressão estão entre os malefícios causados pelo consumo excessivo de álcool — Foto: istock

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) não existe um padrão de consumo de álcool que seja absolutamente seguro. O limiar de ingestão de álcool necessário para danos cerebrais é desconhecido. O impacto de um consumo moderado também ainda não está claro em relação aos efeitos do álcool sobre os desfechos cardiovasculares e cerebrais. Existem ainda dois problemas: toxicidade e superavit calórico. Do ponto de vista calórico, o consumo da álcool faz uma grande diferença na ingesta total calórica de uma pessoa. O álcool possui maior densidade energética (7kcal/g) do que o carboidrato, por exemplo (4kcal/g), assim o consumo exagerado do álcool, mesmo com restrição de alimentos, pode trazer prejuízo na composição corporal de um esportista. Ou seja, álcool engorda.

– Falando em efeitos tóxicos, o grande problema é o acetaldeído. Após a ingestão do álcool, duas enzimas do fígado, álcool desidrogenase (ADH) e aldeído desidrogenase (ALDH), começam a quebrar a molécula de álcool para que ela possa ser eliminada do corpo. O ADH ajuda a converter o álcool em acetaldeído. O acetaldeído permanece no corpo apenas por um curto período de tempo porque é rapidamente convertido em acetato por outras enzimas. No entanto, embora o acetaldeído esteja presente no corpo por um curto período de tempo, é altamente tóxico e conhecido como cancerígeno – explica Renke.

Para Roberta Genaro, médica atuante na área de nutrologia e medicina integrativa, palestrante e biohacker, o consumo de álcool afeta diretamente a nossa saúde, e há pesquisas que demonstram uma forte associação entre o consumo e doenças neurodegenerativas a nível de DNA. Em um estudo observacional feito por pesquisadores de Oxford com mais de 25 mil pessoas, foi demonstrado que existe uma forte relação entre o consumo de álcool e o processo de envelhecimento celular precoce.

– O álcool é uma droga psicoativa, ou seja, ele atua diretamente no cérebro como uma substância tóxica para o organismo, independente do tipo de bebida alcoólica consumida – comenta Roberta.

A recomendação, de acordo com o médico, é escolher não beber ou beber com moderação, limitando a ingestão a um máximo de duas bebidas (exemplo: duas long necks ou duas taças de vinho) por dia para homens ou uma bebida por dia para mulheres, nos dias em que o álcool é consumido.

– Na verdade, com a interrupção do consumo, evitamos o desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo hipertensão arterial, doença cardíaca, acidente vascular cerebral, doença hepática e problemas digestivos e problemas de saúde mental causados pelo álcool incluindo depressão e ansiedade – completa Renke.

Outro benefício apontado pelo endocrinologista, é a melhora do sono, o que também beneficia a recuperação de atletas. Outros estudos mostraram efeitos na função cognitiva na manhã seguinte e sugeriram aumento do risco de lesões musculares nas pessoas que consomem bebidas alcoólicas.

De acordo com a médica e biohacker Roberta Genaro, ao eliminarmos o álcool da dieta, a curto prazo melhoramos a nossa capacidade metabólica do fígado, trazendo mais energia, disposição e bem-estar ao organismo e, no longo prazo, favorecendo uma longevidade saudável e diminuindo o risco do aparecimento de doenças que podem ser ativadas pelo consumo de álcool.

– A curto prazo, eliminando o álcool e a famosa ressaca existe uma melhora na nossa capacidade cognitiva, capacidade de pensamento e raciocínio lógico. Além disso, diminui a retenção líquida, logo melhora a sensação de inchaço do corpo causado pelo acúmulo de água que sai dos vasos para o tecido subcutâneo – completa.

Alcoolismo

Roberta reforça que o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) estabelece como dose padrão 14g de etanol puro e orienta as mulheres a limitarem seu consumo a uma dose por dia e, os homens, a até duas doses por dia. A ingestão acima desta quantidade já pode ser considerada "beber demais".

Segundo o Ministério da saúde, apenas um “sim” a algumas dessas perguntas sugere um possível problema e sinais do alcoolismo, sendo importante procurar ajuda:

  • Você já sentiu que deveria diminuir a bebida?
  • As pessoas já o irritaram quando criticaram sua bebida?
  • Você já se sentiu mal ou culpado a respeito de sua bebida?
  • Você já tomou bebida alcóolica pela manhã para “aquecer” os nervos ou para se livrar de uma ressaca?

– O álcool afeta diretamente os receptores celulares cerebrais e nível de DNA ligado a produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina, implicando numa deficiência desses neuro-hormônios fundamentais para a felicidade e bem-estar. Logo, quanto maior o consumo de álcool, maior será a chance de piorar ou desenvolver algum grau de depressão – concluiu a especialista.

Fontes:
Guilherme Renke é médico endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabologia (SBEM), e médico do esporte, membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBMEE) e da Sociedade Brasileira de Medicina e Obesidade (SBEMO).
Roberta Genaro é médica atuante em nutrologia e medicina integrativa, palestrante em Biohacker e fundadora da MAP, primeiro Master Mind de Saúde do Brasil. Pós-graduada em biofísica quântica e terapia ortobiomolecular e Master Health Coach em em Saúde Integrativa Sistêmica.

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