Quando o UnitedHealth Group comprou a Amil, em 2012, por R$ 10 bilhões, a expectativa era de que uma das maiores operadores de planos de saúde do Brasil recebesse investimentos, fizesse aquisições, ganhasse mercado e ampliasse suas receitas em pelo menos 10% ano a ano. O prognóstico positivo estava amparado no fato de o controle da empresa brasileira estar com uma gigante americana, com forte governança e bem estruturada financeiramente para fazer os aportes necessários e colocar o plano de crescimento em prática. Dez anos após a entrada no País, o UHG arruma as malas para deixar o Brasil e coloca a Amil à venda. Por ironia, segundo fontes do mercado, os principais problemas que levam a companhia a tomar a decisão são justamente processos de gestão falhos e falta de interesse em colocar recursos na operação para fortalecer a operadora. Em jogo estão 15 unidades hospitalares, 53 ambulatórios, 1,2 mil hospitais credenciados, 7,4 mil laboratórios e centros de diagnósticos credenciados, 19,5 mil colaboradores, 2,9 milhões de beneficiários de planos de saúde (que colocam a empresa como a terceira maior do Brasil no setor) e 2,19 milhões de assinantes de planos odontológicos. O futuro dessa rede e dos usuários passou a ser uma incógnita e está envolto em algumas polêmicas.
Dinheiro para injetar na Amil não seria problema para o UHG. O grupo fechou o ano fiscal de 2021 com faturamento global de US$ 287,6 bilhões, aumento de 12% em relação ao ano anterior, e lucro líquido na casa dos US$ 17,7 bilhões. Já a Amil, em seu balanço mais atualizado, encerrou 2020 com receita de R$ 25,7 bilhões, redução de 6% em relação ao ano anterior, com lucro líquido de R$ 517,1 milhões. As receitas com operações de planos de saúde foram 7% inferiores a 2019 por causa da queda no número de beneficiários e de um mix de produtos desfavorável, segundo a empresa. Já os ganhos com serviços médico-hospitalares, impactados pela redução no volume de procedimentos eletivos durante o primeiro ano de pandemia, foram 2% menores ante o ano anterior. O desempenho econômico-financeiro também foi negativamente impactado pelo aumento dos custos com medicamentos e materiais médicos. Os investimentos atingiram R$ 555,9 milhões, oriundos da geração de caixa e aporte e empréstimos da controladora UnitedHealth Group. Um grande esforço para um pequeno resultado. Os R$ 517,1 milhões de lucro representam US$ 97,6 milhões, na cotação de quarta-feira (2). Ou 0,55% do lucro global do UHG.
ERROS Diante de resultados pouco expressivos, muitos erros teriam sido cometidos pelo UnitedHealth Group na gestão da Amil. Um dos principais em governança. Quando os americanos compraram a operadora brasileira, colocaram o ex-dono e fundador da Amil, Edson de Godoy Bueno, como presidente do conselho do UHG para América Latina. Segundo pessoas próximas à operação, ele não decidia nada. Assim como estaria ocorrendo ainda hoje com o CEO do grupo no Brasil, José Carlos Magalhães, e o CEO da Amil, Edvaldo Viera. Tudo é definido pelos americanos, acostumados com processos de seguros e não administração de hospitais e planos de saúde, em um mercado complexo e com suas peculiaridades como é o brasileiro.
Outro problema teria nascido de investimentos em bens de capital (Capex), importante na área hospitalar para manter atendimento diferenciado e de qualidade. Os americanos, porém, estariam focando recursos apenas em tecnologia da informação. Pouco para manter a operadora competitiva diante de um cenário de aquisições por parte das concorrentes – foram R$ 15 bilhões gastos em M&A no setor em 2021 – e crescimento das healthtechs. Quando compraram a Amil dez anos atrás, havia quase 6 milhões de beneficiários em planos de saúde e odontológicos. Hoje são 5,1 milhões.
POLÊMICA Para vender a Amil e se desfazer da batata-quente sem prejuízos, o UnitedHealth Group tem adotado ações polêmicas. Uma delas é a alteração dos cerca de 340 mil beneficiários de planos individuais – linha de negócios deficitária porque os reajustes estão limitados pela Agência Nacional de Saúde (ANS) – para a empresa de investimentos Fiord Capital, que ficou com a carteira e ainda recebeu R$ 3 bilhões para isso. A operação seria associada à operadora Assistência Personalizada à Saúde (APS), também do UHG. Segundo informação do jornal O Globo, a Fiord está registrada em um escritório de contabilidade, na zona leste de São Paulo, sem sede própria.
A manobra seria uma preparação para a venda da Amil. Segundo o Bank of America (BofA), o negócio pode ir de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões. Em relatório, a instituição aventa a possibilidade de que a venda seja fatiada, com hospitais e planos sendo vendidos separadamente. No páreo estariam a Rede D’Or, do Hospital São Luiz, e a Dasa, rede de medicina diagnóstica e de hospitais sob comando do CEO Pedro Bueno, filho do fundador da Amil. Há, portanto, a chance de a operadora voltar às mãos da família. “Para Rede D’Or e Dasa, acreditamos que essa possibilidade faz mais sentido, pois adquiririam os ativos hospitalares e um possível segundo player como a SulAmerica ou mesmo o Bradesco adquiririam os beneficiários”, diz relatório do Bank of America. Unimed também é cotada pelo mercado para entrar na negociação. Em nota, a empresa disse que “a Unimed do Brasil esclarece que está sempre atenta aos movimentos do mercado e dialoga com todos os operadores, analisando oportunidades de negócio que complementem sua atuação e consolidem sua liderança no setor”.
Amil: futuro na berlinda - Istoé Dinheiro
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