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Saturday, September 24, 2022

Aumento de casos de influenza A em SP preocupa especialistas, mas pode ser reflexo de inverno atípico - g1.globo.com

Imagem de microscopia mostra vários vírus de influenza A, causadores da gripe. — Foto: CDC/ F. A. Murphy

Imagem de microscopia mostra vários vírus de influenza A, causadores da gripe. — Foto: CDC/ F. A. Murphy

Nas últimas semanas, o número de casos positivos para a influenza A, um dos vírus da gripe, subiu de 4,3% para 23,3%. Os dados são de um levantamento do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) que analisou testes moleculares realizados por alguns laboratórios privados (a grande maioria deles, 95%, nos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste).

Segundo o levantamento, que considera testes de viroses respiratórias entre 20 de agosto e 17 de setembro, percentuais mais elevados de positividade para esse tipo de gripe foram observados principalmente em adolescentes de 10 a 19 anos (52,5%), depois em crianças de 5 a 9 anos (40,8%) e em bebês de 0 a 4 anos (10,6%).

Em seu último Boletim InfoGripe, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também destacou o aumento de casos do vírus na cidade de São Paulo. De acordo com a análise, a capital paulista tem registrado tendência de aumento principalmente em crianças e adolescentes.

A Secretaria de Saúde do município, porém, afirma que os casos de síndromes gripais de uma forma geral seguem em queda, embora não tenha especificado o número exato de quadros de influenza A.

Especialistas ouvidos pelo g1 ressaltam que os números preocupam, tendo em vista que a influenza pode evoluir para quadros graves, principalmente em grupos de risco, como gestantes, idosos, menores de 4 anos e imunossuprimidos, mas lembram também que existe uma vacina gratuita e eficaz contra a doença no sistema público de saúde que previne justamente esses casos.

Nessa reportagem, você vai ver:

  1. O que é a influenza A e qual a atual situação dos casos?
  2. O que explica esse aumento de casos no estado de São Paulo?
  3. O uso de máscaras deve voltar a ser obrigatório? E em escolas?
  4. Quais são os principais sintomas da influenza A?
  5. Como ocorre a transmissão?
  6. Como evitar o contágio?
  7. O que fazer em caso de suspeita?

1) O que é a influenza A e qual a atual situação dos casos?

A gripe é uma infecção aguda do sistema respiratório, provocada pelo vírus da influenza, que tem grande potencial de transmissão.

Existem quatro tipos de vírus da gripe: A, B, C e D. Os dois primeiros são mais propícios a provocar epidemias em ciclos anuais, enquanto o C costuma provocar alguns casos mais leves e o D não é conhecido por infectar ou causar doenças em humanos.

O tipo A da influenza em específico é classificado em subtipos. Embora existam mais de 130 combinações de subtipos de influenza A, as seguintes são as que mais costumam circular:

  1. A(H1N1), responsável pela pandemia de gripe suína em 2009;
  2. A(H3N2), responsável pelo surto fora de época no final de 2021.

A médica Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio Libanês, lembra que a influenza é uma doença sazonal, ou seja, ocorre justamente mais nos meses de junho a setembro, coincidindo com o outono e inverno, e a queda das temperaturas (nos estados do país onde essas estações são mais definidas, como no Sul e Sudeste).

O surto de influenza A em 2021 preocupou bastante os especialistas porque veio fora desse período esperado, quando os termômetros registravam altas temperaturas. O vírus também chegou junto com uma baixa cobertura vacinal pelo país e, para piorar, uma nova cepa do H3N2 que ainda não tinha uma ação contra uma variante específica dessa versão do vírus (Darwin) estava em circulação.

A/CA/4/09, o vírus da gripe suína. — Foto: CDC / C. S. Goldsmith and A. Balish

A/CA/4/09, o vírus da gripe suína. — Foto: CDC / C. S. Goldsmith and A. Balish

Agora, a médica lembra que a vacina da influenza está atualizada com as cepas circulantes no ano anterior (A H1N1, A Darwin H3N2 e a influenza do tipo B), mas ressalta que o atual surto registrado principalmente em São Paulo preocupa porque o imunizante é efetivo para a redução dos casos graves.

"A influenza pode se apresentar apenas como uma síndrome gripal, que causa febre, mialgia, tosse...(veja a lista completa no item 4), mas também como SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) com possibilidade de internação, necessidade de ventilação mecânica e até óbito. Em especial nos grupos de risco, como gestantes, idosos, menores de 2 anos e imunossuprimidos", diz a infectologista.

Ainda segundo o último boletim da Fiocruz, de 11 de setembro a 17 de setembro, a situação nacional indicava que:

  • 9,7% dos casos de SRAG no Brasil foram causados pela gripe A;
  • 0,8% por influenza B;
  • 8,6% por vírus sincicial respiratório;
  • E, a grande maioria deles, pelo Sars-CoV-2 (o vírus causador da Covid): 55,8%.

Em contraste, o boletim dos dias 4 a 10 de setembro, apontava :

  • 5,9% de prevalência para influenza A;
  • 0,4% para influenza B;
  • 6,7% para vírus sincicial respiratório;
  • E 63,0% para o Sars-CoV-2.

Contudo, Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, ressalta que os dados indicam, por enquanto, que estamos vendo um aumento significativo de influenza A apenas no estado São Paulo, e que, se não tomarmos o devido cuidado (veja o que recomendam os especialistas nos itens 2 e 3), esse pode ser o início de um novo processo epidêmico.

"Dada a importância da capital paulista em termos de fluxos de pessoas para todos os centros urbanos do país, [esse aumento] serve de sentinela. Pode acontecer nos outros locais porque caso espalhe, respinga nos outros, talvez não invada, mas respinga", pontua o pesquisador.

Somente no estado de São Paulo, entre os dias 21 de agosto e 17 de setembro, a influenza A representou 20% do total de casos de SRAG, enquanto o SARS-CoV-2 respondeu por 54%. Há um mês, segundo os dados da Fiocruz, esse mesmo indicador da influenza apontava para aproximadamente 3%, enquanto o SARS-CoV-2 respondia por 90%

2) O que explica esses números?

Segundo os especialistas ouvidos pelo g1, ainda é cedo para cravar o que de fato explica o aumento desses casos em São Paulo, mas Celso Granato, médico infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, aponta um fator importante em jogo: um inverno atípico.

"A gente não tem uma explicação muito clara. Mas ainda estávamos no inverno até a semana passada. E essa é uma doença de inverno. Um inverno que foi meio atípico, né. Em primeiro lugar, porque ele estava bem frio. Em segundo lugar, porque estava oscilando muito a temperatura. Tivemos temperaturas baixas até o finalzinho da estação", ressalta Granato.

Durante esses períodos de frio, Kobayashi acrescenta que as pessoas tendem a ficar próximas umas das outras em ambientes que facilitam a transmissão viral.

“[Esse atual surto] tem mais a ver com a queda das temperaturas e o nosso comportamento social no inverno, [quando ficamos] em locais fechados (ambientes pouco ventilados) associado a maiores aglomerações”, ressalta.

"O influenza não circulou no inverno. A gente estava esperando uma onda que não veio e agora ele veio de novo fora de época, mas menos fora de época que o ano anterior", afirma o presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri.

Aliado a isso, Granato ainda destaca que o aumento do número de casos de influenza A vem acompanhado de uma vacinação recente contra a gripe, mas que não teve uma campanha muito eficaz.

Frascos da vacina contra a influenza. — Foto: Governo do Estado de São Paulo/Divulgação

Frascos da vacina contra a influenza. — Foto: Governo do Estado de São Paulo/Divulgação

Em julho, o governo do estado de São Paulo estendeu a vacinação contra a gripe a todas as pessoas com mais de 6 meses de idade. Mas, desde o início da campanha em março, apenas 69,3% do público-alvo (crianças, trabalhadores da saúde, gestantes, puérperas, indígenas, idosos e professores) receberam a imunização, segundo dados do Ministério da Saúde consultados pelo g1.

Entre as crianças menores de 5 anos, essa taxa está em torno de 64,6%. A faixa ideal de cobertura para todos os públicos é acima de 90%.

"Essa é uma vacina que tem uma proteção bastante limitada", diz Granato. "A gente vacinou muito em março, abril. Então, ela já não está com tanta eficiência agora no final de setembro. Por isso, eu acho que vale a pena mesmo a gente revacinar agora. E muitas dessas crianças talvez não tenham sido vacinadas também".

Por outro lado, Kfouri destaca que a vacinação é uma proteção individual e ressalta que a sazonalidade atípica do influenza foi influenciada muito mais pela pandemia de Covid-19. "Em 2020, nós quase não tivemos circulação de influenza no ano inteiro. Em 2021, o pico de dezembro foi atípico, completamente extemporâneo, fora do inverno. E agora, embora tenha se aproximado mais do inverno, o período de maior circulação está sendo em setembro, que também é uma circulação atípica".

"E a gente ainda não tem ideia do tamanho da epidemia deste ano. Mas está crescendo bastante. Não sabemos também ainda qual a variante do influenza A, parece ser o H3N2, mas não sabemos se é o mesmo que está na vacina", chama atenção o pediatra.

3) O uso de máscaras volta a ser obrigatório? E em escolas?

Além da vacinação, tanto Kobayashi como Granato recomendam o uso da proteção facial para conter o avanço do surto.

“A gente fica até com receio de falar isso hoje em dia porque as pessoas estão muito cansadas das máscaras, mas a gente deveria incorporar isso no nosso modo de viver”, destaca o médico infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) disse que "reforça a importância da vacinação e conscientização dos pais e responsáveis sobre a relevância da imunização de rotina e não apenas em momento epidêmico ou pandêmico" (veja a íntegra das notas no final desta reportagem).

Já a Secretaria de Educação do governo estadual afirmou que o uso de máscaras em qualquer ambiente escolar segue como uma opção individual, mas reforçou que adota protocolos sanitários que "prezam pela higienização e ventilação dos ambientes, auxiliando na não proliferação de vírus".

"A máscara é nossa vacina universal: quando você usa máscara você não pega Covid, você não pega a influenza, resfriado.

4) Quais são os principais sintomas da influenza A?

Segundo a Fiocruz, ao entrar em contato com o vírus, uma pessoa começa a manifestar os sintomas entre o primeiro e o quarto dia da infecção. Entre os principais, se destacam os seguintes:

  • Febre;
  • Calafrios;
  • Tosse;
  • Dor de garganta;
  • Nariz escorrendo ou entupido;
  • Dor muscular e/ou corporais;
  • Dor de cabeça;
  • Fadiga (cansaço);
  • Vômito e diarreia, mais comum no público infantil.

Geralmente, a recuperação leva menos de duas semanas, mas algumas pessoas podem apresentar complicações, como uma pneumonia, infecção que acomete os pulmões.

5) Como ocorre a transmissão?

Ao espirrar, tossir ou falar, uma pessoa infectada pode transmitir o vírus diretamente; ou indiretamente, se a pessoa levar as mãos contaminadas à boca, nariz e olhos após entrar em contato com superfícies contaminadas.

6) Como evitar o contágio?

A Fiocruz recomenda lavar as mãos com frequência, utilizar máscaras e priorizar ambientes com circulação do ar.

Além disso, como pontuado acima, existe uma vacina gratuita contra o vírus que todos podem tomar.

A Fiocruz lembra que os imunizantes disponibilizados pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) são compostos a partir de uma regulamentação da Anvisa, que avalia as cepas em circulação dos tipos A e B da influenza nas temporadas de circulação do vírus.

"É sempre bom reforçar a importância da vacina! Principalmente para pessoas dos grupos de risco com maior chance de quadros graves", destaca a infectologista Carla Kobayashi.

7) O que fazer em caso de suspeita?

A infectologista Carla Kobayashi ressalta que os pacientes que apresentarem casos leves não precisam procurar um Posto de Saúde ou UBS imediatamente.

A atenção médica deve ser procurada se a condição persistir ou piorar. A médica destaca sinais de alerta como febre persistente, falta de ar e, no caso das crianças, apatia, sinais de desidratação e queda do estado geral.

Além disso, pessoas que correm o risco de desenvolver uma doença grave (SRAG), como gestantes, idosos, imunossuprimidos, menores de 2 anos, devem procurar o atendimento médico para avaliação e orientações.

  • Abaixo, confira na íntegra as notas enviadas ao g1:

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo:

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) segue as orientações das autoridades sanitárias e reforça que os protocolos sanitários prezam pela higienização e ventilação dos ambientes, auxiliando na não proliferação de vírus. O uso de máscaras em qualquer ambiente escolar é uma opção individual, conforme o Decreto Estadual nº 66.575/2022.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) reforça a importância da vacinação e conscientização dos pais e responsáveis sobre a relevância da imunização de rotina e não apenas em momento epidêmico ou pandêmico. Até 30 de setembro, o Governo de SP realiza a Campanha de Multivacinação, quando as crianças e adolescentes podem atualizar a caderneta de vacinação e se proteger contra várias doenças.

Secretaria Especial de Comunicação da Cidade de São Paulo:

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), informa que surtos de síndrome gripal (SG) relacionados ao vírus influenza são caracterizados pela ocorrência de dois ou mais casos suspeitos ou confirmados, em até sete dias, a partir da data de início de sintomas entre os casos. Quando há a ocorrência de surtos de SG, esses devem ser notificados para a Vigilância Epidemiológica do município.

A SMS esclarece, ainda, que durante as semanas epidemiológicas 21, 22, 23, 24 e 25 (22 de maio a 25 de junho) foram registrados 747 surtos de SG por agentes etiológicos diversos, incluindo o vírus influenza, em escolas da cidade. A partir da SE 26 até a 36 (26 de junho a 10 de setembro), foram registrados 104 surtos. Portanto, os casos de SG são monitorados e seguem em queda.

As orientações para surtos de síndrome gripal pelo vírus influenza podem ser acessadas neste link: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/informe_tecnico_04_2019_sindrome_gripal.pdf A Secretaria Municipal de Educação (SME) destaca que as escolas da Rede Municipal de Ensino seguem os protocolos sanitários definidos pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), da Secretaria Municipal da Saúde.

As áreas da Saúde e Educação fazem um trabalho conjunto visando o controle da transmissão de vírus na comunidade escolar. A SMS monitora as unidades escolares e dá suporte técnico para investigação de casos junto às UBS e Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS).

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