Na maioria das vezes, os brasileiros trabalham cerca de 40 horas por semana. Por isso, as atividades envolvendo o trabalho representam uma parte importante de nossas vidas e podem ser um fator que causa sofrimento emocional, afetando a saúde mental.
Recentemente, a síndrome de burnout foi reconhecida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como doença ocupacional. Mas, além dela, surgiu outra síndrome que vem chamando a atenção dos profissionais de saúde: a boreout. Você pode nunca ter ouvido falar dessas síndromes, porém, é bastante provável que reconheça os sintomas que vamos descrever.
Boreout: quando não há nada para fazer no trabalho
A síndrome de boreout pode ser considerada o oposto do burnout. A expressão é derivada da palavra em inglês "boring", que significa algo entediante. Portanto, trata-se de uma desmotivação profunda e contínua no trabalho. Geralmente, ocorre quando o profissional não se sente estimulado em suas atividades, não vê propósito em suas funções ou não tem o que fazer.
Esse estado emocional também leva à queda na produtividade, pois o funcionário se torna indiferente e executa somente o necessário. Também afeta a relação com a equipe, o que influencia os resultados empresariais.
"Ela acontece quando a pessoa tem uma baixa demanda ou carga mental relacionada ao ambiente de trabalho. Causa apatia e falta de interesse, mas vale destacar que não tem a ver com preguiça. Esses comportamentos refletem uma falta de propósito com as atividades do ambiente de trabalho", diz Christiane Ribeiro, psiquiatra e diretora da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Entre os sintomas de boreout, estão:
- Irritabilidade;
- Frustração;
- Falta de motivação;
- Ansiedade;
- Dificuldade de concentração;
- Sentimento de fracasso;
- Oscilações de humor.
Síndrome de burnout: quando o trabalho adoece
Conhecido também como a síndrome de esgotamento profissional, o burnout é definido como um problema de saúde resultante do estresse crônico mal gerenciado no trabalho.
Ocorre um esgotamento físico e mental dos profissionais, que estão sobrecarregados, com altas exigências e cobranças no trabalho. Também seguem um ritmo e volume de atividades exacerbadas, o que causa estresse crônico, afetando o bem-estar mental. No Brasil, estima-se que atinja uma a cada cinco pessoas que trabalham no mundo corporativo.
"Normalmente, o indivíduo entra em um alto nível de exigência e necessidade de atingir metas intangíveis. O estresse constante no trabalho e a sobrecarga em suas atividades geram um esgotamento total, levando à falta de energia como um todo e, muitas vezes, afeta outras esferas da vida da pessoa, que deixa de realizar atividades cotidianas por causa dos sintomas", diz Natalia Reis Morandi, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo (SP).
Os sintomas podem começar de forma leve e piorar com o passar do tempo. Por isso, o diagnóstico, em alguns casos, demora mais, já que muitos pensam ser algo passageiro ou se tratar de outras doenças. Entre os sinais de síndrome de burnout, estão:
- Exaustão ou falta de energia para realizar as tarefas;
- Distanciamento afetivo do trabalho e sentimentos negativos a respeito dele ou da própria carreira;
- Queda na produtividade;
- Dores musculares e de cabeça frequentes;
- Mudanças repentinas de humor;
- Dificuldade de se concentrar;
- Alteração do ritmo de batimentos cardíacos;
- Pressão alta;
- Isolamento social;
- Problemas gástricos;
- Sensação de fracasso e de impotência;
- Alteração da alimentação e do sono.
Como tratar?
Tanto a síndrome de burnout quanto a boreout podem afetar a saúde mental dos indivíduos. As condições têm alguns sintomas muito similares, como ansiedade, falta de concentração e alteração do padrão do sono e das atividades habituais. No entanto, o burnout traz um esgotamento físico e mental que afeta a vida de forma global, podendo levar à depressão, por exemplo.
"O burnout é quando o trabalho é superestimado; já quando é subestimado surge o boreout. O trabalho é uma forma de realização, vai além da questão financeira. É importante buscar o equilíbrio e encontrar um sentido no que está fazendo, sem se sobrecarregar", afirma Fábio Gomes de Matos, psiquiatra e professor titular de psiquiatria da UFC (Universidade Federal do Ceará).
Em ambas as situações, a recomendação é buscar ajuda profissional. A psicoterapia, por exemplo, é uma estratégia efetiva para trabalhar as expectativas em relação ao trabalho e lidar com o estresse de uma forma mais saudável.
Em alguns casos, quem tem burnout precisa se consultar com um psiquiatra e começar com medicação para diminuir os sintomas. Geralmente, o especialista indica antidepressivos e ansiolíticos e também mudanças na rotina.
Formas de prevenir
Como passamos boa parte da vida trabalhando, é importante buscar e manter um ambiente de trabalho saudável. Muitas vezes, o estresse é inevitável, mas há formas de driblá-lo para ter mais qualidade de vida.
Os especialistas consultados por VivaBem dizem que é necessário manter hábitos como exercícios regulares, dieta balanceada, dormir bem e não abrir mão dos momentos de lazer.
É importante colocar como meta ter períodos relaxantes durante a semana e ter um hobby. Também é recomendado realizar pausas frequentes durante o expediente para respirar e se distrair, além de respeitar os horários das refeições.
Outra estratégia eficaz para evitar o burnout ou boreout é estabelecer metas e objetivos profissionais, organizar o tempo para cada atividade e analisar regularmente quais são as prioridades. E, sempre que possível, conversar sobre os sentimentos quando estiver se sentindo sobrecarregado, sem motivação e com muitas dificuldades profissionais.
Já em relação às empresas, muitas vezes, é preciso mudar a forma de gestão ou processos. Faz toda a diferença para a saúde mental quando há uma preocupação por parte dos gestores com os estados emocionais dos funcionários e como isso afeta a produtividade dos indivíduos e, consequentemente, os resultados das empresas.
"Cabe aos gestores manter uma boa comunicação, dar feedbacks construtivos, desenvolver plano de carreira e aprimorar os processos internos. Além de conhecer as competências de cada um para manter funcionários motivados, reconhecidos e menos sobrecarregados. São fatores importantes para garantir a saúde mental dos indivíduos", diz Morandi.
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