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Monday, October 24, 2022

Duas formas de melhorar a saúde mental, segundo Dráuzio Varella - Pequenas Empresas & Grandes Negócios

Antes da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já tinha alertado que a maior causa de absenteísmo nas empresas seria a depressão. Algumas das razões para isso eram o quadro de excessiva pressão para realizar cada vez mais tarefas em menos tempo e a solidão proporcionada pela dinâmica das grandes cidades. O médico Dráuzio Varella falou sobre como a pandemia ajudou a agravar esse quadro e qual é o papel das empresas para ajudar os funcionários a lidarem com essa questão, durante a convenção da Associação Brasileira de Franchising (ABF), no último sábado, 22/10, em Comandatuba (BA).

Dráuzio Varella participa da Convenção da ABF, em Comandatuba, na Bahia (Foto: Keiny Andrade)

Dráuzio Varella participa da Convenção da ABF, em Comandatuba, na Bahia (Foto: Keiny Andrade)

Ao longo da palestra, Varella explanou sobre como a evolução tecnológica tem mudado completamente as relações de trabalho – desde o fax, passando pelo e-mail até a chegada do smartphone. “Por um lado, simplificou as tarefas, trouxe mais eficiência para as empresas. Mas te fez trabalhar mais, e não menos”, diz. De acordo com ele, o cérebro humano não está preparado para lidar com tantas coisas ao mesmo tempo. “Quando se tem um excesso de informação, as memórias antigas continuam lá, mas não se consegue manter memórias recentes.”

Dessa forma, pequenas informações do dia a dia, retidas pela chamada “memória do trabalho” podem acabar se perdendo mais facilmente, pois o cérebro tem dificuldade de focar no momento presente.

Fale a respeito

Antes do painel, o médico falou com jornalistas sobre como as empresas podem atuar para ajudar os profissionais a lidarem com a saúde mental nesse momento. “A primeira coisa que as pessoas fazem quando percebem que não rendem como rendiam antes é tentar esconder isso dos supervisores”, diz. De acordo com ele, o medo de perder o emprego e de que o quadro psicológico não seja visto como algo a ser tratado fazem com que o funcionário guarde o que sente para si, gerando como reação natural o estresse.

Quanto mais tempo passa, mais difícil será resolver o problema, o que gera prejuízos na saúde mental dos funcionários e, consequentemente, nos resultados da companhia. “A empresa pode até pensar em mandar o profissional embora, mas as pessoas não são descartáveis.” Além disso, uma cultura que não valoriza a saúde mental do funcionário não será capaz de manter pessoas por muito tempo nos cargos – que também pode impactar custos com folha de pagamento e treinamento, entre outros.

A dinâmica do trabalho híbrido e o home office trouxeram novas cargas, principalmente para as mulheres, e a diferença hormonal não é a única responsável por isso. “O transtorno de ansiedade e a depressão são três vezes mais frequentes nas mulheres do que nos homens, justamente por ter que lidar com pressões no trabalho, social, em casa, com a família.” 

De acordo com o médico, as empresas devem construir uma cultura que permita abertura para esse tipo de discussão. “Tem que haver possibilidade de as pessoas falarem sobre os problemas psicológicos [que enfrentam], do que sentem, precisa existir um estímulo para isso. Muitas empresas têm um SOS psicológico, em que a pessoa liga e fala com uma psicóloga. É uma ideia”, diz. 

Ele ainda aconselha que a próprias lideranças falem sobre o tema, uma vez que a pressão atinge a todas as camadas dentro de uma empresa. Isso pode dar confiança para o que os funcionários também se abram.

"Defenda-se" com exercícios físicos

Varella disse que para entender o que acontece com o ser humano agora, é necessário olhar para as origens do Homem, há cinco ou seis milhões de anos. “Mulheres e homens, há milhares de anos, a julgar pelo que vemos em museus, tinham entre 80 e 90 centímetros de altura. Eram seres frágeis, precisavam se virar para comer e para se defender de animais ferozes. Eles conseguiram sobreviver formando grupos. A formação de grupo é essencial para a sobrevivência.” 

Logo, o distanciamento imposto pela pandemia fez com que as pessoas se sentissem mais frágeis e buscassem “defesas” em outros recursos, como o álcool. Uma solução para manter a saúde mental em dia é cuidar da saúde física. Varella diz que não adianta esperar a disposição para se exercitar – ele próprio é maratonista há 30 anos e diz nunca ter sentido vontade de correr pela manhã. "Eu só entendo por que estou fazendo aquilo comigo mesmo quando enxergo a linha de chegada."

Se o profissional não conseguir tempo para correr ou fazer exercícios em academia, o que é muito comum entre mulheres com longas jornadas, o médico sugere que o exercício seja encaixado na agenda rotineira. “Se tiver dez minutos para caminhar no dia, caminhe. Suba escadas, mexa-se, se exercite.”

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* o repórter viajou a convite da ABF

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