"A última atualização que temos é a foto mais recente postada pela filha dele, com todos irmãos." Ao meio-dia de segunda-feira (26), posicionada bem em frente à entrada principal da unidade oncológica do hospital Albert Einstein, no Morumbi, zona sul de São Paulo, uma repórter de televisão falava ao vivo sobre a situação de Pelé. A foto à qual ela se referia foi publicada por Kely Nascimento na noite de domingo (25), ao lado dos cinco irmãos onde o jogador está internado há quatro semanas.
Pelé deu entrada no Einstein em 29 de novembro para fazer uma reavaliação da quimioterapia de um tumor de cólon e tratar uma infecção respiratória, segundo o boletim médico divulgado na época. Ao longo dos dias, a equipe de especialistas que o acompanha percebeu uma "progressão" no câncer descoberto em 2021. A doença passou a afetar rim e coração do Rei do Futebol. Por isso, ele ficou internado e iniciou em seguida um tratamento paliativo.
A rotina de jornalistas nas imediações da unidade de saúde passou a se intensificar ao longo dos dias, sobretudo no último final de semana, com a piora do quadro clínico de Pelé. Na véspera e no dia de Natal, a família do jogador se reuniu com ele e publicou foto do encontro no quarto da internação. "Mais uma noite juntinho", escreveu Kely, que na imagem aparece com Edinho, Celeste, Flávia, Gemima e Jeshua. Nesta segunda-feira, às 8h, já havia repórteres e cinegrafistas na calçada do prédio.
"Foram cinco boletins [médicos]. Agora não tem muita novidade", comentava um produtor de TV, numa sala preparada pela assessoria de comunicação do hospital e que serve de apoio aos profissionais na cobertura. O salão grande tem cadeiras e mesas onde as pessoas se revezam ao longo do dia, apurando informações e escrevendo reportagens.
Em meio ao falatório aos microfones, uma repórter gravava notícias em espanhol e, em seguida, em inglês. Mais afastada, sentada numa escadaria, outra jornalista enviava um áudio em francês falando de Pelé. O mundo parece atento ao maior jogador brasileiro.
Como está o Rei
Desde 21 de dezembro, não se tem uma atualização oficial dos médicos sobre o quadro de saúde do ex-jogador. A escolha foi da própria família. "Já se sabe como ele está, não faz sentido alimentar sensacionalismo", ponderava um homem, conversando com jornalistas. O que se sabe é que Pelé está em um quarto, sedado.
"Tem novidade? Como ele está?", perguntava Valdeci dos Anjos, 64, vendedor de picolé, ao passar na frente do hospital, por volta das 13h30. Valdeci roda o bairro diariamente ("só não passei aqui no final de semana"), e aproveita para se atualizar sempre que consegue perguntar a alguém. "Quem é fã dele quer saber, né? Eu passo aqui e pergunto ao rapaz da segurança, mas ninguém sabe nada."
Encostado numa ambulância, na rua, um socorrista afirmava que se tornou comum a abordagem das pessoas para saber sobre Pelé. Dia a dia, contava ele, é possível acompanhar o aumento da imprensa e de curiosos. "Faz pouco tempo que chamaram os jornalistas para ficar mais perto da entrada."
O corredor Frei Jabá, 67, terminou o treino no bairro de Santana e decidiu ir até o Morumbi, a quase 20 quilômetros de distância, para "prestar homenagem ao Rei", como disse. Ao meio-dia ele estava sozinho, embaixo de uma árvore, próximo à guarita do hospital, acompanhando a movimentação.
"Eu quero fazer uma maratona em homenagem a ele, correr por ele — seja com ele já curado ou não", contava Jabá, vestindo uma grande camiseta com a foto de Pelé estampada no peito.
'Chefe de Estado'
No início da noite, mais um turno de repórteres se organizava para novas entradas ao vivo nos noticiários. Sob a leve chuva que começava a cair, o aglomerado de câmeras ganhou também uma cobertura especial com grandes guarda-chuvas.
A falta de informações preocupava um rapaz prestes a falar na TV: "Me cobram novidade, mas é impossível", reclamava, logo em seguida, a uma colega. "Nem a família postou mais fotos. A última foi há 20 horas", acrescentava.
A curiosidade não é à toa. Profissionais de fora do Brasil também passaram a questionar os amigos brasileiros. Um grande jornal francês, dizia um jornalista, tem procurado hospedagem em Santos, no litoral paulista, onde Pelé iniciou a carreira. O veículo de comunicação quer enviar equipes que querem produzir reportagens sobre o Rei do Futebol. "É Pelé. É como um chefe de Estado, todo mundo quer saber dele."
A espera por notícias sobre a saúde de Pelé, em frente ao hospital - TAB
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