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Tuesday, May 18, 2021

Câncer na cárdia é mais comum em idosos, mas jovens precisam ficar atentos aos sinais - O POVO

Bruno Covas morreu no domingo, 16 de maio (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Bruno Covas morreu no domingo, 16 de maio (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Aos 41 anos, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, morreu no último domingo, 16, após avanço de um câncer que começou na cárdia e se espalhou pelo trato digestivo e outros sistemas do corpo. Esse tipo específico de câncer, que aparece na transição entre estômago e esôfago, ou seja, na cárdia, é mais comum entre os 65 e 74 anos, segundo dados epidemiológicos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Entretanto, a exposição de jovens a fatores de risco como o tabagismo, o consumo de sal e a obesidade podem aumentar a prevalência nessa faixa etária.

Covas foi diagnosticado com um adenocarcinoma em outubro de 2019, um câncer na região da cárdia, com metástase no fígado e uma lesão nos linfonodos. Após o diagnóstico, ele iniciou um tratamento de quatro meses de quimioterapia. Com o tratamento, dois dos tumores chegaram a desaparecer, mas o do fígado ainda persistia.

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De acordo com o cirurgião oncológico Alexandre Ferreira Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a sobrevida média de pacientes com esse diagnóstico é de 8 a 18 meses. “É possível pensar em cura para este tipo de câncer quando o diagnóstico é feito em fase inicial. Quando ele já está em fase metastática, não se pode falar em cura, mas em sobrevida”, afirma Oliveira.

Oliveira explica que a piora acelerada do prefeito coincide com o espalhamento da doença para regiões importantes do corpo. “Quando a doença chega aos ossos é pelo fato dela já estar na corrente sanguínea, causando um comprometimento sistêmico", afirma. Covas lutava já em maio contra um câncer no sistema digestivo, com metástase nos ossos e no fígado, e estava internado desde o dia 2 de maio no Hospital Sírio Libanês.

No Brasil, o câncer de estômago é o terceiro tipo mais frequente entre os homens e o quinto entre as mulheres e o tipo adenocarcinoma é responsável por cerca de 95% dos casos de tumor do estômago. A estimativa em 2020, era o surgimento de 21.230 casos desse tipo, sendo 13.360 homens e 7.870 mulheres, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Adenocarcinomas no estômago atingem, em sua maioria, homens por volta dos 60-70 anos e cerca de 65% dos pacientes têm mais de 50 anos. Já o câncer de esôfago (tubo que liga a garganta ao estômago) é o sexto mais frequente entre os homens e o 15º entre as mulheres. É o oitavo mais frequente no mundo e a incidência em homens é cerca de duas vezes maior do que em mulheres.

Dentre todos os adenocarcinomas, há um subtipo que ocorre na transição esofagogástrica, uma região do trato digestivo que corresponde à passagem do esôfago para o estômago e está situada normalmente entre o tórax e o abdômen, a chamada cárdia. A válvula é responsável pelo controle do fluxo normal dos alimentos no sentido do esôfago para o estômago.

Heládio Feitosa, cirurgião oncológico do Hospital Haroldo Juaçaba (Grupo ICC), explica que adenocarcinomas na região esofagogástrica tendem a desenvolver metástase hepática, como aconteceu com o prefeito, e o espalhamento para o peritônio, uma membrana reveste as paredes da cavidade abdominal. O especialista também ressalta que desde o início o caso era delicado e as sessões de quimioterapia e imunoterapia ajudaram na sobrevida. “Ele conseguiu ganhar um pouco mais de tempo, mas infelizmente o tumor dele já era estágio quatro porque já havia espalhamento em outro órgãos que não o de origem”, ponderou.

O também cirurgião do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e do Instituto José Frota (IJF) ressalta, entretanto, que pessoas mais novas acima de 35 anos devem ficar atentas a mudanças no trato intestinal. “Sintomas que não havia como má indigestão, sentir-se empachado, queimação. Esses pacientes deveriam fazer uma endoscopia. O procedimento não só olha por dentro como pode tirar um pedacinho para fazer uma biópsia”, destacou.

Ele explica que a indicação é ainda mais direcionada quando os sintomas já duram mais de algumas semanas quase diariamente. Isso porque, mesmo que não venha a ser câncer, postergar pode influenciar no aparecimento de outras condições como refluxo ou gastrite, que também são fatores que aumentam a possibilidade aparecimento de cânceres no trato digestivo. “Um dos maiores fatores de risco para se ter adenocarcinomas no esôfago é você ter doença do refluxo gastroesofágico associado a Barret. Então quanto mais se posterga, maior a chance de apresentar complicações dessas patologias”, pontua o cirurgião.

Vida mais saudável

Além de condições genéticas, a forma como se vive influencia na incidência do aparecimento de câncer no estômago e esôfago. Uma alimentação rica em carne vermelha ou com uma qualidade elevada de sal, bem como enlatados e embutidos, prejudicam a saúde do corpo e devem ser evitados. “Essa alimentação gera muito nitrato que é carcinogênico, aquilo que propicia o aparecimento de câncer para o epitélio do estômago. O sal é também um fator carcinogênico para o estômago”, aponta.

Ele aconselha para uma vida mais balanceada, com a prática de exercícios físicos e uma alimentação mais baseada em frutas e verduras. “É preciso uma prevenção associada a um gastroenterologista. E uma vez diagnosticado o câncer, ser encaminhado a um cirurgião oncologista”, finaliza.

Bruno Covas 

Neto de Mário Covas, ex-governador de São Paulo, Bruno também escolheu a carreira política para sua vida. Natural da cidade de Santos, ele se formou em Direito, pela Universidade de São Paulo (USP), e em Economia, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Sua entrada na política aconteceu em 2006, quando foi eleito deputado estadual de São Paulo, com 122 mil votos.

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Em março de 2020, Covas liderou a cidade quando surgiram os primeiros casos da pandemia do novo coronavírus em São Paulo. Desde cedo, ele assumiu a postura de recomendação de medidas preconizadas por cientistas e tomou atitudes para combater a pandemia, como a construção de hospitais de campanha. Em outubro do mesmo ano, ele bateu Guilherme Boulos (Psol) no segundo turno das eleições e foi reeleito prefeito de São Paulo com 59,4% do total de votos

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