Adolescente amputará o braço direito na próxima semana, após iniciar tratamento contra um osteosarcoma — Foto: Arquivo Pessoal
A uma semana de ter um braço amputado, um adolescente de 16 anos de Itanhaém, no litoral paulista, relatou ao G1 a sensação de alívio e, ao mesmo tempo, desespero por retirar o membro, após descobrir um câncer nos ossos e precisar tomar morfina para aliviar as dores. Segundo ele, os sintomas começaram há seis meses, porém, o tumor só foi descoberto há dois.
Lucas Andrade Rizzo gostava de ter o cabelo grande, se divertir com a família e cuidar de seus animais, além das tarefas do dia a dia, como lições escolares. Porém, nos últimos seis meses, a rotina do adolescente mudou. Conforme contou ao G1 neste domingo (27), ele começou a sentir fortes dores no braço direito e perceber um calombo crescendo acima do cotovelo.
Acompanhado da mãe e do padrasto, ele foi ao médico diversas vezes, e era informado que se tratava de uma “dor de crescimento”, por ele estar se desenvolvendo fisicamente, e que era normal. De acordo com o jovem, os médicos chegaram a realizar um exame de raio-X e dizer que não havia nada de errado, mesmo ele mostrando um calombo interno e o braço inchado.
Após meses de idas e vindas ao hospital, ele foi encaminhado para a Santa Casa de Santos, também no litoral de São Paulo. Depois de realizar uma biópsia, foi diagnosticado com osteosarcoma, um câncer nos ossos. A descoberta ocorreu há dois meses.
Lucas iniciou sessões de quimioterapia, passando a ficar mais fraco por conta dos efeitos do tratamento, perdendo também o cabelo, uma importante característica que fazia parte de sua identidade.
Adolescente amputará o braço direito na próxima semana, após iniciar tratamento contra um osteosarcoma — Foto: Arquivo Pessoal
“É muito difícil. Eu tinha cabelo longo, e para mim foi difícil perder ele, eu gostava muito. Tinha minha autonomia, cuidava dos meus animais, dava carinho e atenção para a minha família, para a minha namorada, e aí mudou tudo”, conta.
O garoto ainda explica que, por conta das fortes dores, os médicos receitaram morfina a ele, mas a mãe não conseguiu o medicamento de graça, gastando uma grande quantia para seguir a receita médica. Segundo ele, o braço com o tumor foi medido com 41 cm.
Além disso, ele também precisa de suplementos alimentares, porém, com a mãe desempregada e o padrasto também, por precisar acompanhar os tratamentos, consultas e internações do enteado, a família encontra dificuldades financeiras para se manter.
Amputação
Após meses sentindo dor, sem conseguir acompanhar as aulas da escola diariamente, fazer as atividades que gosta ou sequer dobrar o braço direito, Rizzo descobriu que terá de amputar o membro, pois, no estágio em que o tumor foi diagnosticado, já não há chances de recuperar o braço.
O procedimento está marcado para a próxima semana. Sendo destro, o adolescente enfrenta dificuldades para se readaptar e realizar suas atividades com o braço esquerdo. Mesmo assustado, ele também se diz aliviado por, finalmente, não ter que sentir mais dores.
Adolescente descobriu câncer após ir diversas vezes a médicos — Foto: Arquivo Pessoal
“Sinto um pouco dos dois [preocupação e alívio]. Estou feliz porque, finalmente, isso tudo vai acabar, depois, eu só vou precisar fazer a quimioterapia. Mas ninguém quer perder o braço. Já pesquisei próteses, mas é bem caro. Por um lado, eu estou bem, e por outro, estou bem desesperado”, relata.
O morador de Itanhaém acredita que a amputação não seria necessária caso os médicos tivessem prestado mais atenção ao seu problema. Porém, ele tem esperanças de superar essa fase e recuperar sua rotina.
“Se eu tivesse sido tratado antes, com certeza teria um resultado melhor, e provavelmente não precisaria da amputação. Mas, agora, não tem o que fazer. Eu só pretendo tentar ter uma vida mais normal possível depois que acabar”, conclui.
Câncer ósseo
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cancerologia, o tumor ósseo representa 2% das patologias oncológicas no Brasil. São registrados, em média, de dois a três casos da doença a cada 1 milhão de habitantes, sendo que, nas crianças e adolescentes, o tipo mais comum é o osteosarcoma.
O câncer ósseo normalmente afeta os ossos longos dos braços e coxas, coluna e bacia. “A doença é classificada em tumor ósseo primário, que é quando o câncer se desenvolve diretamente no osso; e tumor ósseo secundário, que surge a partir de um processo conhecido como metástase óssea, quando um câncer em outro órgão se dissemina pelos ossos”, explica o ortopedista oncológico Fernando Brasil.
A causa específica da maioria dos tipos de câncer ósseo é desconhecida. Porém, acredita-se que ela esteja relacionada a um erro no DNA de algumas células, que faz com que haja uma mutação ou divisão celular de forma irregular.
A exposição a altos níveis de radiação, síndromes genéticas e doenças pré-existentes, como a doença de Paget, contribuem para o aumento das chances de desenvolvimento do tumor ósseo. Alguns dos principais sintomas desse câncer são as dores intensas e frequentes em determinadas partes do corpo e fraturas patológicas causadas por algum acometimento prévio do osso.
VÍDEOS: G1 em 1 Minuto Santos
Adolescente descobre câncer e terá que amputar braço deformado após médicos alegarem 'dor de crescimento' - G1
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