RIO — A febre maculosa, doença que teria causado a morte de dois policiais durante treinamento no Rio, é causada por bactéria e transmitida pelo carrapato. Segundo o infectologista Marcos Junqueira Lago, do Hospital Pedro Ernesto, o contágio é comum em áreas rurais e, sobretudo, durante os meses de inverno, onde os carrapatos se proliferam com maior frequência.
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Segundo o especialista o contágio é mais comum pelo carrapato estrela, que tem como hospedeiros preferidos os equídeos, mas pode também parasitar bovinos, outros animais domésticos e animais silvestres. O infectologista explica que quando diagnosticada precocemente, a doença não produz grandes riscos.
— A febre maculosa pode ser tratada com antibiótico. É uma doença que se você suspeita dela precocemente e busca tratamento, o risco de morte diminui muito. O maior problema é a demora com o diagnóstico. Isso pode fazer com que evolua para um quadro de hemorragia interna — afirma.
De acordo com o especialista, os sintomas iniciais não são muito específicos, sendo que o mais comum é febre alta. Nesse caso, se a pessoa esteve recentemente em alguma área rural, é preciso acender o alerta.
— Os sintomas não são específicos. O mais comum é febre alta, acima de 38,5 graus. Nesse caso, é preciso que se avalie se o paciente teve contato com zona rural. Ele precisa ter tido contato com o carrapato para pegar febre maculosa — explica.
O período de incubação da doença é de 24h a 72h, podendo se estender a até duas semanas.
No domingo, o cabo Mario César Coutinho de Amaral morreu, com suspeita da doença. Mario estava na corporação havia nove anos e no Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) havia quatro, onde era instrutor.
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Na última sexta-feira, o sargento Carlos Eduardo da Silva também morreu com suspeita. O policial atuava como instrutor do curso deste ano e adoeceu durante a "etapa da mata" da instrução. Os exames complementares para checagem das circunstâncias do óbito, no entanto, ainda estão sendo realizados pelo Hospital da Fiocruz, onde o agente estava internado quando faleceu.
O treinamento onde policiais militares teriam sido contaminados com febre maculosa foi realizado em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. O local da realização do curso foi confirmado pela assessoria de imprensa da Secretaria estadual de Polícia Militar. O secretário estadual de Saúde Alexandre Chieppe disse, nesta segunda-feira, que a pasta investiga os óbitos dos agentes e que a região não tem histórico da doença.
A Secretaria de Estado de Saúde confirmou que há um outro caso suspeito de febre maculosa em investigação no município de São da Barra, no Norte Fluminense. Amostra coletada pelo município será enviada à Fiocruz, para análise e a previsão é de que o resultado saia em até sete dias. Ainda segundo a secretaria, até o momento, foram registrados 12 casos de febre maculosa com três mortes no estado do Rio. No ano passado foram 12 casos com duas mortes.
A Secretaria municipal de Saúde informou que o último caso de febre maculosa registrado na capital foi em 2018, no bairro de Madureira, com local de infecção provável em outro estado, de acordo com a investigação epidemiológica. A respeito do caso dos PMs, o órgão informou que maiores informações sobre o cenário de risco serão definidas a partir da investigação em curso sobre o local provável de infecção pelas equipes de Vigilância Epidemiológica e Vigilância Ambiental. "Os resultados das apurações e as medidas tomadas serão informados oportunamente.", informou por meio de nota.
Como se proteger:
Conforme o Ministério da Saúde, as principais atividades preventivas na febre maculosa são aquelas voltadas às ações educativas, informando a população sobre características clínicas, unidades de saúde e serviços para atendimento, áreas de risco, ciclo do vetor (carrapato) e orientações técnicas, buscando-se evitar o contato com os potenciais vetores, tais como:
- Evitar caminhar, sentar-se e deitar em gramados e em áreas de conhecida infestação de carrapatos em atividades de lazer como piqueniques, pescarias etc.;
- Quando for inevitável o acesso a essas áreas, que seja realizada vistoria no corpo em busca de carrapatos em intervalos de 3 horas, para a retirada dos ectoparasitas e, assim, diminuir o risco de contrair a doença;
- Se forem verificados carrapatos no corpo, não esmagar o carrapato com as unhas, pois ele pode liberar as bactérias e infectar partes do corpo com lesões. Deve-se retirá-los com leves torções e com auxílio de pinça, evitando contato com as unhas e o esmagamento do artrópode, e descartá-los em álcool. Quanto mais rápido forem retirados, menor a chance de infecção;
- Utilizar barreiras físicas, como calças compridas, com a parte inferior por dentro das botas ou meias grossas;
- Utilização de roupas claras para facilitar a visualização e retirada dos carrapatos;
- O uso de equipamentos de proteção individual para atividades ocupacionais como capina e limpeza de pastos também é importante. Além disso, é recomendado o uso de repelentes, conforme orientações na bula do produto;
- Além dos cuidados de aspecto individual, também é importante providenciar a utilização periódica de carrapaticidas em cães, cavalos e bois, conforme recomendações do profissional médico veterinário, evitando com que animais tão presentes no cotidiano das pessoas fiquem infestados;
- Limpeza e capina periódica de lotes não construídos e áreas públicas com cobertura vegetal;
- Manter vidros e portas fechados em veículos de transporte em áreas com risco de infestação de carrapatos;
- Promoção de capacitações de profissionais da saúde envolvidos no diagnóstico, tratamento e vigilância;
- Orientação técnica de veterinários, profissionais do turismo e da agropecuária em geral sobre controle e/ou contato com vetores em áreas não urbanas e urbanas.
Saiba o que é a febre maculosa, doença que teria causado a morte de dois policiais durante treinamento - Jornal O Globo
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