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Monday, September 26, 2022

O que muda no corpo após interromper a menstruação? - Universa

"Você não tem medo de interromper um processo natural?" Essa é a pergunta que Gabriela Dourado, de 36 anos, mais escuta quando comenta com outras mulheres que não menstrua há mais de uma década. A pausa aconteceu em função dos métodos anticoncepcionais que escolheu usar nos últimos tempos —primeiro a pílula, depois o DIU hormonal.

Apesar do julgamento, a jornalista, que mora em Fortaleza (CE), não se arrepende da decisão. "Eu não quero sofrer, não quero sentir dor, não quero ter dias do mês em que me sinto mal só para corresponder a essa expectativa machista de que mulher aguenta tudo e calada", garante.

Ela, que começou a usar pílula aos 21 —tanto para evitar uma gravidez, quanto para reduzir a cólica e a TPM —migrou para o DIU há seis anos, por considerar um método mais seguro e prático. "Sempre tive muito medo de engravidar e a possibilidade de esquecer a pílula me trazia pouca segurança, algo que afetava até minha vida sexual, por não conseguir relaxar com meu parceiro", diz.

Após muitas pesquisas, Gabriela percebeu que o DIU atenderia melhor às suas necessidades. "A maioria dos médicos nem sugeria ele como método, então eu mesma pesquisei um profissional e pedi pela aplicação", recorda. Hoje, conseguiu encontrar uma ginecologista com a qual se sente segura e faz o acompanhamento da sua saúde. Desde que optou pelo DIU, seu único efeito colateral foram cólicas alguns dias depois da implantação.

"Não defendo que toda mulher deva parar de menstruar. As mulheres não 'têm que' nada. Mas precisamos ter a opção. Devemos ser munidas de pesquisas voltadas para a nossa saúde, ser bem orientadas para, aí sim, fazermos a escolha que mais se adeque a cada realidade", opina.

Desde que passou a emendar as cartelas de anticoncepcionais, Yesica não teve mais sangramentos - Acervo pessoal - Acervo pessoal

Desde que passou a emendar as cartelas de anticoncepcionais, Yesica não teve mais sangramentos

Imagem: Acervo pessoal

Yesica Sales, de 32 anos, mora em Niterói (RJ), trabalha como auxiliar administrativo e também não menstrua há dez anos. "Quando comecei a menstruar, aos 13 anos, tinha muitos problemas. Desmaiava de dor, uma sensação que pegava o cóccix e as pernas. Era um sangramento desregrado, volumoso, que durava muitos dias", recorda.

O ginecologista recomendou, então, que ela começasse a tomar um anticoncepcional, a fim de prevenir um quadro de endometriose. "No início, eu pausava, mas ainda sentia cólicas. Depois, quando comecei a emendar as cartelas, não tive mais sintomas", relata. Mesmo as queixas mais frequentes, como ganho de peso e perda de libido, Yesica garante que não sentiu até hoje.

"Existiu uma fase em que muitas pessoas começaram a falar dos riscos dos hormônios nas redes sociais. Eu fiquei preocupada e procurei minha ginecologista. Ela explicou que, no meu caso, não seria indicado retirar a pílula. Confiei no diagnóstico, sei que meus exames estão em dia, então não me arrependo", resume.

Assim como elas, muitas pessoas não consideram o ciclo menstrual importante para manter a conexão com o próprio corpo. Pelo contrário: para uma parcela, tudo o que envolve a menstruação é considerado desconfortável —desde os primeiros sinais da TPM, até as cólicas e inchaço. Por isso, optam por suspender o ciclo.

Há ainda quem não se incomoda tanto com os sintomas, mas precisa recorrer aos métodos hormonais para o tratamento de doenças —um processo que pode durar anos. Porém, como no caso de Gabriela, o assunto ainda gera questionamentos.

Entenda a seguir como ocorre a pausa, para quem ela é indicada, os riscos envolvidos e o que muda no corpo após interromper a menstruação.

Por que acontece a menstruação?

Gabriela Rezende, membro da comissão nacional de ginecologia endócrina da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), explica que o natural é que pessoas do sexo feminino em idade reprodutiva menstruem regularmente, em um intervalo de 24 a 38 dias.

Isso acontece porque o endométrio (tecido localizado no interior do útero) se prepara para receber um embrião. Quando o corpo não engravida, a camada que se tornou espessa e cheia de vasos sanguíneos descama.

Como interromper a menstruação?

Essa interrupção pode ser feita por meio de medicações com hormônios: pílula anticoncepcional, métodos contraceptivos injetáveis (como a injeção trimestral ou o implante subdérmico) ou por meio de dispositivos intrauterinos (DIU).

Todos eles fazem uma atrofia do endométrio. "O tecido fica bem fininho, por isso não acontece mais aquele sangramento expressivo: no máximo ocorre um sangramento mais leve, que não se configura como menstruação", aponta.

Quem pausa a cartela do anticoncepcional menstrua?

A resposta é não. "Só menstrua quem não usa métodos anticoncepcionais ou usa algum que não interfere no endométrio, por exemplo a camisinha masculina ou feminina. Quem toma pílula bloqueia o processo de ovulação e atrofia o tecido", explica.

O que ocorre, no entanto, é que algumas cartelas vêm com comprimidos placebos, que devem ser usados de 4 a 7 dias. "Isso diminui um pouco os hormônios e permite que o útero dê uma leve descamada, mas não da maneira natural. Por isso, o sangramento é chamado de artificial", detalha.

É perigoso parar de menstruar?

Assim como na administração de outros medicamentos, existem nos contraceptivos hormonais efeitos colaterais que podem ou não se manifestar. "Esses efeitos dependem de quais hormônios estão sendo administrados (estrogênio ou progesterona) e se eles são sintéticos ou não. No entanto, de maneira geral, alguns deles podem dar náuseas, dores de cabeça e de estômago, edemas e inchaços nas pernas e sangramentos de escape", aponta.

Se administrados a longo prazo, os anticoncepcionais que contêm estrogênio elevam o risco de trombose. "Costuma ser um evento raro, mas é recomendado que o ginecologista investigue o histórico de cada paciente antes de receitar a medicação", aponta.

Parar de menstruar por muito tempo faz mal?

A médica explica que os métodos contraceptivos têm um prazo de duração no organismo e que, quando interrompidos, o corpo volta a funcionar normalmente. "O que acontece muitas vezes é que as mulheres começam a tomar a pílula muito cedo. Depois, quando param de tomar, não sabem como o corpo funciona sem o efeito do anticoncepcional", pondera.

Por isso muitas podem se incomodar com cólicas, fluxo maior ou irregularidades no ciclo ao pararem com o anticoncepcional: o passar do tempo fez com que as características da sua menstruação mudassem —mas, por estarem com o ciclo bloqueado, não notaram essas diferenças. A médica garante ainda que o uso do anticoncepcional não interfere na fertilidade.

Quem pode parar de menstruar?

Se uma mulher é saudável, não apresenta disfunções menstruais, nem sangramento anormal, mas quer suspender a menstruação mesmo assim, ela pode fazer isso.

"É uma decisão pessoal e que deve ser tomada em conjunto com o ginecologista, de preferência em uma conversa aprofundada. É preciso saber se a paciente tem alguma doença, se faz uso de outras medicações, se já realizou cirurgias, se tem vícios, histórico de câncer, trombose, infarto ou AVC na família, quando foi sua primeira menstruação, como são os seus ciclos, seus hábitos de vida e sexuais", aponta Gabriela.

Com essas informações, mais o exame clínico, o médico consegue avaliar se existe alguma contraindicação para parar de menstruar. Caso não haja impedimentos e a paciente estiver ciente dos riscos e benefícios envolvidos, o método pode ser indicado.

Além disso, mulheres que sofrem de anemia, que têm pólipos ou miomas ou sofrem de doenças, como a adenomiose, podem receber, como parte do tratamento, a indicação de suspender a menstruação.

Por que mesmo com TPM e cólicas, muitas mulheres preferem menstruar?

Além do receio dos efeitos colaterais, a ginecologista recorda que a mulher brasileira tem uma ligação cultural com a menstruação. "Muitas associam à saída do sangue com a ideia de uma limpeza do corpo. Outras se sentem mais seguras ao vê-lo, por saberem que não estão grávidas. Existe ainda a conexão com o organismo: para uma parcela das mulheres, é um momento de reflexão, de observação de si mesmas. Por isso a decisão de seguir menstruando deve levar em conta as crenças, percepções, a profissão e outros aspectos além das condições físicas femininas", resume.

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