Fumante por quase três décadas, a produtora rural Ana Regina Majzoub, 56, foi diagnosticada com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) em 2009, aos 43 anos. Atualmente com 32% de capacidade respiratória, Ana conta que viu sua saúde mental ficar comprometida nos primeiros anos pós-diagnóstico. Ela tinha medo de não conseguir respirar e de morrer. Superada as dificuldades, Ana encoraja as pessoas a abandonar o cigarro e compartilha sua história a seguir:
"Comecei a fumar aos 17 anos. Sabia dos malefícios do cigarro, vivia dizendo que ia parar, mas nunca tomava uma atitude efetiva em relação a isso. Em 2008, fiz uma promessa de Ano-Novo e consegui parar por um mês usando adesivos de nicotina, mas acabei voltando.
Um ano depois, passei mal, senti cansaço e fadiga durante o banho. Achei estranho e procurei um clínico geral para fazer um check-up. Os exames não apresentaram grandes alterações, mas o médico me orientou a procurar um pneumologista. Chamou a atenção dele o fato de eu ser fumante há 26 anos. Fui ao pneumo e ele pediu alguns exames complementares.
Alguns dias depois, abri sozinha o resultado de um dos exames e li a palavra enfisema pulmonar. Não sabia exatamente o que era, mas imaginei que não era coisa boa.
Levei o resultado para o médico e fui para o consultório sem levar meu maço de cigarro —tinha o hábito de carregá-lo para qualquer lugar que fosse, mas fiquei tão assustada que deixei em casa.
Ao ver o exame, o pneumologista me diagnosticou com DPOC, disse que ela foi causada pelo tabagismo e explicou que o meu tipo estava associado à enfisema pulmonar.
A DPOC é uma doença respiratória causada por uma inflamação das vias aéreas que leva à obstrução persistente dos brônquios, dificultando a respiração, e tem como sintomas: cansaço, falta de ar e perda irreversível da capacidade respiratória.
Fiquei chocada com o diagnóstico e naquele mesmo dia já iniciei o tratamento com o uso de bombinhas e parei de fumar —caso não abandonasse o cigarro poderia ter sérias complicações.
No começo foi difícil, mas adotei algumas estratégias para ajudar. Parei de tomar café por alguns meses e não ficava em ambientes com outros fumantes, incluindo ficar longe do meu marido quando ele estava fumando.
Acredito que o maior impacto que a DPOC causou foi na minha saúde mental. Tinha crises de ansiedade, muito medo de passar mal, de não conseguir respirar e morrer. Não saía para lugar nenhum sozinha, tinha que estar sempre acompanhada, não fazia qualquer atividade que exigisse esforço físico.
No meu trabalho —sou produtora rural— parei de andar na lavoura, ficava no escritório, não frequentava mais feiras e eventos. Não andava nem mais no quarteirão perto de casa, preferia fazer tudo de carro.
O médico recomendou que eu praticasse alguma atividade física, ele disse seria benéfico para o tratamento. Mas pensava que só de andar um pouco mais rápido já ficava com falta de ar, imagine se fizesse um exercício mais intenso. Tinha medo e não fazia. Além disso, não gostava de me expor, quase não falava sobre o meu problema de saúde com outras pessoas.
Tive dois episódios em que fiquei internada por conta da DPOC, sempre causadas por crises de tosse e falta de ar. A primeira internação foi uma complicação que começou com um quadro de sinusite. A segunda foi porque senti uma fadiga extrema que me impossibilitou de fazer tarefas simples do dia a dia —ficava cansada só de andar do quarto para cozinha e de tomar banho.
Uma coisa que me ajudou no processo foi participar de grupos, no Facebook e no WhatsApp, de pacientes que tem DPOC, como o #CDD Informa Respiratórios.
Ouvir as histórias, dificuldades e superações de outras pessoas me fizeram enxergar a doença de uma outra perspectiva.
Esse contato me encorajou a perder o medo de fazer exercício físico e experimentar coisas novas. Fiz pilates por um tempo e passei a fazer fisioterapia respiratória.
Aprendi a respirar e a identificar minhas limitações. Atualmente, tenho apenas 32% de capacidade respiratória, mas, de forma geral, levo uma vida normal e procuro fazer as coisas mais devagar, no meu ritmo.
Por muitos anos, ouvi de algumas pessoas que deveria parar de fumar. Se tivesse seguido o conselho delas, talvez não tivesse desenvolvido a DPOC. Incentivo os fumantes a abandonar o vício e a buscar hábitos de vida mais saudáveis."
Saiba mais sobre a DPOC
DPOC é uma doença irreversível que leva à diminuição persistente da taxa de fluxo de ar dos pulmões, devido à uma obstrução crônica e progressiva das vias áreas, e a perda da capacidade respiratória. Ela tem início lento, mas pode evoluir de modo rápido para o estágio mais grave, levando à insuficiência respiratória e morte.
Fica entre a terceira e a quarta causa de morte em países em desenvolvimento. O Brasil tem um óbito a cada 15 minutos relacionado à doença, que é marcada por quadros persistentes de bronquite crônica e/ou enfisema pulmonar. Na bronquite, há persistente produção de muco e inflamação das vias aéreas. No enfisema, há destruição dos alvéolos, estruturas responsáveis pela troca dos gases (oxigênio e gás carbônico) nos pulmões.
- Uma das principais causas da DPOC é o tabagismo, uma vez que a combustão do cigarro lesiona as vias respiratórias.
- Vale ressaltar que além do cigarro tradicional, o uso do cigarro eletrônico (vape) e do narguilé também levam à doença.
- Além disso, também está vinculada à inalação de outras substâncias tóxicas, como a exposição à fumaça de biomassa (lenha, carvão vegetal) e à poluição do ar.
Os sintomas são:
- Falta de ar (dispneia) progressiva e limitante;
- Cansaço;
- Fadiga crônica;
- Tosse crônica que pode ser acompanhada de catarro que se exterioriza principalmente pela manhã.
As principais dificuldades. Devido à falta de ar, o paciente pode não conseguir realizar atividades corriqueiras, como tomar banho, subir escadas, caminhar, trabalhar. O cansaço excessivo também causa impactos na saúde física e mental.
O paciente tende a ficar limitado, restrito, isolado e com a qualidade de vida comprometida, o que pode levá-lo a um quadro de depressão. Muitas vezes há o sentimento de culpa, porque a pessoa adoeceu em razão do tabagismo.
O tratamento para DPOC consiste em:
- O primeiro ponto é a cessação do tabagismo e o uso dos dispositivos inalatórios --as famosas bombinhas-- que levam os medicamentos broncodilatadores direto para o pulmão.
- Também pode ser recomendado o uso de corticosteroides como anti-inflamatórios.
- Há casos em que a dificuldade da troca gasosa é tão intensa que o paciente necessita de suplementação de oxigênio.
- Também é indicado um programa de reabilitação pulmonar com sessões de fisioterapia.
- Os tratamentos retardam a progressão da doença, controlando os sintomas e reduzindo as complicações.
- Não tem cura, mas pode ser controlada e reduzir o risco de morte.
Vale ressaltar que todos os tratamentos estão disponíveis no SUS, e que houve um avanço importante no Brasil com a incorporação no novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de 2021 de broncodilatadores de classes diferentes, com administração em um único dispositivo, ampliando as opções terapêuticas.
Fonte: Clystenes Odyr Soares, pneumologista e professor da disciplina de Pneumologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
'Tinha medo de não conseguir respirar e morrer', diz mulher com DPOC - VivaBem
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