No último dia 12 de junho, o meia Christian Eriksen, da Dinamarca e da Inter de Milão, sofreu um mal súbito em campo enquanto jogava uma partida da Eurocopa 2021 pela seleção de seu país contra a Finlândia. O jogador recebeu massagem cardíaca, para manter a oxigenação cerebral, em campo e foi reanimado com a ajuda de um desfibrilador externo automático (DEA), que dá um choque no coração para que ele retome o ritmo cardíaco. Nesta quinta-feira, foi divulgado que Eriksen colocará um cardiodesfibrilador implantável (CDI). Ainda não foi anunciado o motivo do mal súbito, nem se o atleta poderá continuar jogando. Mas o que é um CDI? Quais os problemas cardíacos que exigem a sua implantação? E normalmente é possível continuar a praticar esportes ou atividades físicas, mesmo que de forma amadora, com ele? O médico cardiologista do esporte Mateus Freitas Teixeira, do Vasco da Gama, coordenador do Covid Group Control durante a Copa América 2021, explica em que situações o aparelho é necessário e quais as suas consequências.
+ Protocolos de exames cardíacos para atletas após a Covid-19
+ O que é miocardite: causas, sintomas e tratamentos para a doença que atinge muitos atletas
Cardiodesfibrilador implantável: aparelho dá choques no coração quando há uma taquicardia perigosa — Foto: Istock Getty Images
O que é e causas para uso
O cardiodesfibrilador implantável (CDI) é um desfibrilador subcutâneo para pacientes que têm uma doença cardíaca de base que causa arritmias cardíacas, e que é implantado abaixo da clavícula. Quando o aparelho percebe uma taquicardia perigosa ou uma fibrilação ventricular, ele dá um choque interno no coração, para que ele volte ao ritmo normal, de forma a evitar a parada cardíaca e a morte. São consideradas doenças de base para uso de CDI:
- Doenças estruturais, normalmente cardiomiopatia hipertrófica;
- Doenças inflamatórias, como a miocardite, inflamação no músculo do coração que muitas vezes acontece depois de viroses, como gripes ou covid-19;
- Doenças genéticas, como displasia arritmogênica de ventrículo direito.
O CDI é da família dos marcapassos, mas se diferencia deles pelo seguinte:
- Marcapasso: como o nome diz, ele marca o ritmo cardíaco, ajuda o coração a manter esse ritmo, mas não faz a desfibrilação. É usado principalmente por pacientes idosos ou que sofrem com insuficiência cardíaca;
- Marcapasso com cardiodesfibrilador implantável: tanto marca o ritmo quanto dá o choque (desfibrilação) quando necessário. Indicado para o mesmo tipo de paciente que usa apenas marcapasso, mas em casos mais graves;
- Cardiodesfibrilador implantável: é usado como uma prevenção secundária para pacientes que têm uma doença de base que pode causar arritmias. Funciona como um desfibrilador e entra em ação, dando um choque no coração quando há uma taquicardia perigosa ou um uma fibrilação ventricular. Indicado normalmente para pacientes com cardiomiopatia hipertrófica ou com miocardite.
Há vida esportiva após o CDI?
Quando se trata de esporte de alto rendimento, como o praticado por atletas profissionais como Eriksen, dificilmente. Há casos raros, como o do holandês Daley Blind, zagueiro do Ajax, que colocou um CDI em dezembro 2019, em função de uma miocardite, e voltou a jogar em fevereiro de 2020. Alguns meses depois, em agosto 2020, o aparelho apresentou um problema durante um jogo, e Blind desmaiou em campo, mostrando que o processo é complicado. Mas resolvido o problema, Blind segue jogando.
Eriksen no hospital, após a internação — Foto: Reprodução
- Pesquisadores holandeses defendem que se deve liberar o atleta para atuar. O Blind, inclusive, joga na Holanda e usa um desfibrilador interno. Mas na Itália, onde o Eriksen joga, a legislação sobre isso é rígida, ele dificilmente vai voltar a atuar lá. Na maioria dos países, ele não poderá jogar. Aqui no Brasil mesmo, não autorizamos. O Everton Costa teve que colocar um quando era do Vasco e precisou se aposentar em seguida - lembra Mateus, referindo-se ao caso do atacante, que parou de jogar aos 28 anos, em 2014, justamente por ter implantado um CDI em função de uma arritmia cardíaca causada pela Doença de Chagas.
Mas Mateus explica que isso não significa que se deve abandonar toda e qualquer atividade física, muito pelo contrário. O que deve ser avaliada é a continuidade em atividades de alta intensidade. As de de intensidade leve e moderada, por outro lado, são indicadas como parte do tratamento para pessoas com CDI.
- A atividade física é totalmente recomendada, porque o exercício também é remédio. Ele ajuda a diminuir a pressão arterial, o índice glicêmico e a inflamação, melhora a capacidade funcional e tem grande impacto na redução da mortalidade. É o item número um da prescrição médica - ressalta o cardiologista.
Mas nem todo exercício é indicado, e há alguns cuidados que precisam ser tomados por todos os pacientes com CDI, tais como:
- Deve-se evitar exercícios vigorosos de membros superiores, porque o aparelho fica abaixo da clavícula e esse tipo de movimentação pode avariá-lo, fraturando o cabo do dispositivo;
- Não são recomendadas atividades físicas na água, como natação, polo aquático e hidroginástica, devido ao potencial risco de o dispositivo precisar dar um choque no atleta enquanto está na água;
- O atleta, amador ou profissional, precisa passar antes por um cardiologista do esporte, que vai entrar em contato com o arritmologista (o cirurgião que implantou o marcapasso ou o CDI) para que haja uma avaliação da zona de segurança do paciente e, assim, uma melhor orientação sobre a intensidade máxima dos exercícios. Um teste ergométrico pode ser necessário.
O que é o desfibrilador implantado em Eriksen e qual o impacto na atividade física - globoesporte.com
Read More
No comments:
Post a Comment